quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Pessoal da piauí diz que a revista está mais para a Realidade e a The New Yorker

Por Fernanda Kinsky e Vanessa Marinho
À princípio a similaridade que existe entre as revistas Diners e piauí é entretenimento e informação, além de uma vasta abordagem cultural. Entretanto, segundo a jornalista da revista piauí, Paula Scarpin não há comparação tão esclarecedora entre os dois veículos como há com a Realidade ou à New Yorker. Isto é justificado por uma enquete realizada na própria redação que relembrou a participação na Revista Diners de colaboradores importantes como Paulo Francis e Ruy Castro.

“ ...todo o jornalismo de qualidade que conhecemos nos serve de inspiração... “.

Segue abaixo a entrevista de JOÃO MOREIRA SALLES sobre a revista piauí que lança luz ao funcionamento da publicação.

1. De onde surgiu o nome da revista?
De uma idiossincrasia. Gosto de palavras com muitas vogais, e Piauí tem várias. O som é bonito. Parece banal, e talvez seja mesmo, mas a razão é essa. Vogais amolecem as palavras. Elas ficam mais simpáticas. Piauí é uma palavra simpática.

2. Como a piauí foi criada?
Um grupo de amigos chegou à conclusão que seria bacana entrar numa banca e encontrar uma revista como a piauí. Não passou disso. A decisão não foi tomada a partir de um plano de negócios (ainda que queiramos que a piauí se torne um negócio), ou porque alguém identificou um nicho editorial ainda não explorado. Queríamos ler reportagens como as que publicamos não só em inglês, mas na nossa própria língua.

3. Que propostas, conceitos e valores norteiam a piauí?
Nada de tão sisudo assim. Não sei se temos propostas, conceitos e valores. É um pouco mais simples. Queremos fazer uma revista boa de ler, divertida, que dê tempo aos repórteres para apurar e escrever. Dizer mais do que isso vira teoria, e não somos bons disso.

4. Como se definem as pautas?
Anarquicamente. Cabe tudo, de arqueologia a odontologia. Nenhuma obrigação, nenhuma pauta imprescindível. O que importa é que a história seja bem escrita e que o conjunto seja interessante: temas mais sérios ao lado de histórias em quadrinhos, brincadeiras tolas com matérias apuradas ao longo de meses, textos breves ao lado de textos longos. O segredo está nessa combinação de assuntos e tons. Queremos um equilíbrio entre humor e gravidade, texto e ilustração/quadrinhos, reportagens para quem tem mais de 40 e para quem menos de 30. É uma revista bastante incomum. Não é para ser lida de ponta a ponta, ainda que não seja proibido. Cada um lê a sua piauí. Os temas são tão variados e as abordagens tão diversas, que é muito difícil alguém não encontrar o que não lhe interesse. Acertamos quando alguém começa a ler uma reportagem sobre um assunto que não lhe diz respeito e sobre o qual nunca pensou -- digamos, eletrochoques, ou futebol -- e chega ao final pelo simples prazer da leitura. Por essa razão o processo de edição é tão intenso. O conteúdo interessa, claro, mas a estrutura e a prosa também. Não é apenas o que se conta, mas como se conta.

5. piauí tem uma linha editorial?
Nem nós mesmos sabemos se a piauí tem uma linha editorial. O que sabemos é que a revista não tem a pretensão de explicar o país. Não precisamos cobrir os “grandes temas nacionais”, podemos ficar no micro. Ao invés de fazer a matéria definitiva sobre violência, preferimos publicar o diário de um policial. Melhor contar a história de uma escola do que convidar alguém para fazer um ensaio sobre a educação no Brasil. E podemos escapar inteiramente de temas chatos, como reforma ministerial e discussão do orçamento. Do jeito que a piauí está imaginada, temos muita liberdade para improvisar. No limite, é quase se, a cada número, tivéssemos uma revista nova.

6. Fale um pouco sobre a rotina de trabalho da redação?
Não existe reunião de pauta, as matérias vão surgindo informalmente, da conversa entre os repórteres e o diretor de redação. Somos muito poucos, dez passos e se chega a qualquer mesa. Nosso processo não tem nenhuma liturgia, nenhuma formalização. Também não temos editorias, o que nos desobriga a ter assuntos obrigatórios – política, esporte, economia, etc. No início do mês a redação fica relativamente vazia, e à medida que o mês avança, as pessoas vão ocupando as suas mesas para escrever as matérias.

7. Qual o critério da piauí para assinar matérias? Por que os textos de Esquinas não são assinados?
Chegada, despedida e esquinas não são assinadas por que, digamos assim, representam o tom da revista. Como nossos textos são muito autorais, ou seja, como não buscamos a padronização, é bom que a revista comece de forma mais serena, mais homogênea.

8. A piauí recusa de modo evidente a agenda imposta pelos grandes veículos de imprensa. Por quê?
Porque os temas do noticiário já estão sendo tratados pelo noticiário. Não haveria sentido em criar mais uma revista para cobrir as mesmíssimas histórias. Isso não significa que estejamos despregados do país. Cobrimos assuntos que interessam, mas sem pressa, publicando meses depois, ou de forma diferente. Exemplos: perfil do Luiz César Fernandes, esquina do Roberto Jefferson, matéria da moda, e assim por diante.

9. Como se dá o processo de criação das capas de piauí?
A capa é considerada conteúdo editorial. Ou seja, é a primeira informação que o leitor encontra sobre o espírito da revista. Nem sempre (ou quase nunca) tem relação com as matérias que estão lá dentro. A arte propõe alternativas, todo mundo opina e o diretor de redação tem a palavra final.

10. De que maneira os textos da revista são influenciados pelo estilo conhecido por Jornalismo Literário?
Essa eu pulo, pela simples razão de que não sei o que significa jornalismo literário. Acho que existem textos bem ou mal escritos, e só.

11. O que a revista piauí traz de inovador para o jornalismo de revista?
Talvez o aspecto mais inovador da piauí seja o fato da revista dar tempo ao repórter de apurar uma matéria pelo tempo que for preciso. Nossas matérias não são datadas e procuramos dar a ela o espaço que o tema exigir e também ao repórter tempo suficiente para que um determinado assunto seja coberto com a maior eficiência possível. Assim, não temos prazos predeterminados para nada. Além disso, por não termos seções fixas nem temas obrigatórios, o leitor da piauí nunca sabe o que encontrará a cada nova edição da revista. E esse é um dos nossos objetivos: surpreender o nosso leitor.

12. Qual o perfil do jornalista que escreve para a piauí?
Tanto no staff da redação como entre nossos colaboradores eventuais, não há um perfil específico de jornalista na piauí. Procurarmos misturar profissionais de origens e faixas etárias diferentes para obtermos um certo equilíbrio. Se há um consenso no perfil de trabalho, ele se reflete na precisão da apuração dos fatos, na procura por uma história bem contada e na qualidade do texto jornalístico.

13. Como reunir em uma mesma revista o tom jornalístico e literário sem fugir da informação objetiva?
Não temos uma fórmula predeterminada de como um texto deve ser escrito.
Somos percebidos como uma revista que faz jornalismo literário, mas não é essa a nossa intenção. A piauí trata de assuntos de interesse geral e não se enquadra em nenhum perfil já definido por outras publicações brasileiras. Queremos fazer matérias que sejam interessantes, e é imperativo que tragam informação objetiva, sejam elas de que natureza forem. Não queremos nos prender a padrões estéticos de texto ou de aspecto visual.

14. A revista não tem editorias fixas, mas quais são exatamente as seções fixas em todas as edições?
Não temos nenhuma editoria fixa, mas seções, cujos assuntos variam a cada mês, porque não temos temas obrigatórios. As seções são: Chegada, Esquina, Diário, Poesia, Portfólio (visual), Quadrinhos, Ficção e Despedida. Geralmente, mas não sempre, temos um dossiê sobre um tema específico. Isso varia muito, assim como os nomes das seções flutuantes: Tipos Brasileiros, O que aprendi, Vida urbana, Teatro, Memória. Não há um padrão preestabelecido para nomear as seções avulsas. O mote geralmente (quando o assunto permite) é dar um toque de humor nos nomes das seções, como: Turnê gangsta, Dossiê tortura & maus-tratos, Questões vernáculas, Ora, bolas, Grandes figuras do mundo animal, Conto de fadas, Subterrâneos do rock, O pensamento hídrico, Questões físico-químicas, Cidades & rincões, Vultos das finanças, Rock & adjacências, Pesos e medidas, Dialética do pop, Metafísica, Tribuna livre da luta de classes, Criações diabólicas, etc, etc.

15. Como funciona a seção Diário?
O objetivo da seção “Diário” é apresentar textos de não-jornalistas e mostrar temas que geralmente não são abordados pela imprensa em geral. Quanto mais informal e menos solene o assunto, melhor.
Queremos aproximar o leitor da intimidade de profissionais com os quais ele normalmente não teria contato, sem muita pretensão literária ou formal.

O critério de escolha é buscar profissionais das mais variadas áreas, e assuntos pouco abordados na imprensa. Geralmente, nós da redação convidamos as pessoas (na maioria dos casos, que nunca escreveram antes) para publicarem conosco. Encomendamos vários textos e fazemos uma triagem do que vale a pena ser publicado. As pessoas convidadas geralmente não possuem um diário, escrevem sob nossa encomenda. Uma vez aprovado, fazemos a checagem dos dados contidos nos textos.


15. Quais são as fontes e o papel da revista?
A fonte do logo da piauí é o trade gothic bold.
Títulos: trade gothic condensed bold – corpo 20
Texto: electra old style – corpo 10
O papel é o polen soft. Gramatura: 70 no miolo e 90 na capa.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Livro de Ruy Castro inspirou blog da Revista Diners






No capítulo "Na redação da Diners" do livro "O leitor apaixonado" (Editora Companhia das Letras) o escritor Ruy Castro escreveu 10 páginas sobre a revista Diners. Ilustra com duas capas e foto dos responsáveis pela publicação. Paulo Francis foi um dos editores da revista.

Em breve aqui no Blog.