por Daniela Montico e Rafaela Ribeiro
Cultura, Sim SENHOR!
Quando o assunto é jornalismo cultural, de renome e bem feito no meio empresarial é natural citar a revista Diners como uma das principais. Mas ela não reinou sozinha, também deu espaço a Goodyear e até mesmo para a Revista Senhor, tema deste post.
A Revista Senhor foi lançada em março de 1959 no Rio de Janeiro. Circulou por cinco anos e durante esse tempo deixou sua marca no meio do Jornalismo Cultural. Com publicações bem feitas, considerada de elite e com um corpo editorial bastante intelectual, a revista permaneceu no mercado por pouco tempo, mas foi o suficiente para deixar sua marca e fazer com que as pessoas continuem comentando sobre ela até hoje, exatamente como estamos fazendo.
Em plena década de 50, com o Brasil atravessando uma fase de mudanças, inovações e querendo viver cinqüenta anos em cinco, a Senhor foi um dos símbolos deste país que estava se modernizando, com um conteúdo singular, matérias atemporais, notícias e grande quantidade de informação. Era uma revista diferenciada, de qualidade em uma época em que a cultura no Brasil florescia e a população se interessava pela mesma.
Para começo de conversa, a revista Senhor abriu espaço para muitos mestres começarem as carreiras. Quem pensa que Clarice Lispector publicar um de seus escritos nas páginas de uma revista é tão inimaginável quanto ver um camelo usando um orelhão, está enganado. Clarice foi uma das muitas estreantes na literatura por meio da revista Senhor. Motivada pelo saudoso Paulo Francis, ela teve na publicação uma abertura para seus textos, assim como Fernando Sabino, Ferreira Gullar, entre outros nomes, publicando escritos ao lado de Jorge Amado, Guimarães Rosa, Carlos Drumonnd de Andrade, Paulo Mendes Campos, Antônio Callado, Mário de Andrade, Nelson Rodrigues, Rubem Braga, Aníbal Machado e Vinicius de Moraes e outros.
Agora que já comprovamos a presença de grandes e talentosas figuras compondo o time da revista, é hora de falar um pouco sobre seus temas.
No âmbito editorial, revista ficou dividida no quadrinômio cultura, política, economia e entretenimento. Embora apresente toda essa diversidade temática, sua maior contribuição está no campo do Jornalismo Cultural com espaço para literatura, pintura, escultura, teatro, música, arquitetura, cinema e abrangendo também a cultura popular, o comportamento social – formas de ser e se portar, e as ciências sociais, ajustadas e transportadas ao meio jornalístico. Desde seu inicio, Senhor se mostrou como uma revista de caráter formador de opinião, prezando a notícia, a atualidade, e debatendo amplamente acerca dos aspectos da formação cultural brasileira, a cultura intelectual e a cultura popular.
Um grande diferencial da Revista Senhor, foi o uso do humor. Sátira, ironia e humor picante, sem falar do tom de deboche saudável da sociedade da época, contribuíram para que a publicação fosse única em sua linguagem.
Além disso, mais uma peculiaridade de suas páginas, eram os ensaios fotográficos presentes a cada edição. Voltados para o público masculino, as fotos traziam sempre mulheres em ensaios sensuais. Mas garotos, podem se acalmar, os ensaios eram sempre sensuais, porém de bom gosto, inteligentes, sem serem pornográficas e esbanjando elegância, justamente para provocar o imaginário do público masculino. Na época em que a sociedade ainda via a mulher somente como dona-de-casa, mãe e esposa, Senhor trouxe como suas musas, atrizes, fotógrafas, escritoras, musicistas e outras profissionais.
A revista também promovia um encontro entre modernidade textual e gráfica. Elegante, bem paginada ,editada e grafada com as letras SR, Senhor valorizou como poucas na época, a linguagem gráfica, um visual moderno e precursor de tendências. Tendo um público-alvo mais culto, a revista dava-se ao luxo de escrever minuciosamente textos críticos, analítcos, pesquisados a fundo e preparados com cuidado especialmente na linguagem que certamente seria compreendida pelo leitor. Tal estilo teve como grande inspiração a publicação norte-americana The New Yorker.
Somos alunos de jornalismo, mas não podemos deixar de citar a publicidade na revista Senhor. As publicidades contidas nas edições eram geralmente voltadas para o público masculino e quando tinham como público-alvo as mulheres, eram ali divulgadas para não para serem consumidas diretamente por elas, mas sim para serem oferecidos como presentes ao sexo feminino. Diferentemente de hoje, as publicidades também eram colocadas no índice.
Infelizmente a revista Senhor não conseguiu sobreviver. Era uma publicação de custos elevados e sua fórmula, pautada para uma elite cultural, não conseguiu se sustentar em um país subdesenvolvido. Apesar da boa repercussão, as vendas não eram altas e até mesmo para as elites, os preços eram exagerados.
Apesar da vida curta, a Revista Senhor foi um marco em sua época e seus parcos cinco anos de duração foram suficientes para ela se manter viva até os dias de hoje, como em um blog como o nosso.
Cores da Revista Senhor
Capa da Revista Senhor Ano 1 - 1959 nº1
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